Em 2012 o
jogador de futebol do País de Gales Ched Evans foi condenado a 5 anos de prisão
sob a acusação de ter estuprado uma jovem de 19 anos. Após dois anos cumprindo
pena lhe foi permitido retornar a sua profissão e um clube muito pequeno inglês
(tão inexpressivo quando o próprio Evans), o Oldham Athletic, demonstrou
interesse em contratá-lo. Isso gerou uma séria de protestos contra o clube, um
abaixo assinado com mais de 20 mil assinaturas e patrocinadores ameaçando
retirar investimentos. Até ai tudo bem...
Mas alguém
chegou ao ponto de enviar uma carta anônima ao presidente do clube dizendo que,
caso contratasse o jogador, sua filha seria estuprada.
Ou seja, no
ímpeto de fazer seu argumento prevalecer, essa pessoa chegaria ao ponto de
cometer a mesma atrocidade (ainda que no caso de Evans a defesa ainda alegue
que foram relações consensuais). E pior, de maneira premeditada.
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Recentemente,
ao ler uma biografia de Bob Dylan tive a oportunidade de mergulhar na história
do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos durante a década de 60.
História essa que infelizmente não estudamos no Brasil
Apesar de
enfrentarem oposição hostil – da policia e grupos terroristas como a Ku Klux
Kan – o movimentos dos direitos civis foi majoritariamente pacifico e uniu os
brancos e negros em uma mesma marcha, a da igualdade.
Há menos de
60 anos atrás negros que sentassem no ônibus no lado designado aos brancos no
sul dos EUA eram violentamente presos. Hoje a principal liderança do país e
consequentemente o homem mais poderoso do mundo é um negro, e isso demonstra o
tamanho da transformação pela qual essa sociedade passou.
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O movimento
pelos direitos dos homossexuais no Reino Unido também guarda lições preciosas.
Há não muito tempo atrás, manter relações com pessoa do mesmo sexo era
considerado crime e muitas pessoas foram presas. Inclusive de renome como o
matemático Alan Turing (precursor da computação) e Oscar Wilde (um dois maiores
escritores de língua inglesa de todos os tempos).
Em 1984 um
grupo de ativistas dos direitos dos gays tomou a iniciativa de levantar fundos
para ajudar as famílias dos mineradores que estavam em greve. A União Nacional
dos Mineradores foi relutante em receber a doação, pois não queria ser
associada com um grupo gay, ainda mais considerando o perfil conservador dos
mineradores
Então eles
decidiram ir pessoalmente a pequena vila de Onllwyn no País de Gales e entregar
em mãos o que conseguiram juntar. E, apesar das diferenças dos grupos, as
dificuldades que cada um enfrentava geraram identificação e apoio. Movimentos
de trabalhadores mineiros começaram a dar suporte às campanhas de direitos
iguais aos LGBT em todo Reino Unido. Essa linda história é contada no filme
inglês de 2014 “Pride”.
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Embora o
Brasil se orgulhe da sua diversidade cultural e étnica, infelizmente ainda não
aprendemos a conviver e respeitar o diferente. A história de violência parece
se repetir dia após dia, e ao invés de desenvolvermos o diálogo continuamos
fortalecendo nossos pré-conceitos e alimentando o ódio. E me faço duas perguntas:
Por quê? E até quando?
A cena de
crucificação de um transexual na parada gay paulista é no mínimo polêmica. O
argumento é que foi uma analogia com a paixão de Cristo e a violência sofrida
pelos gays em uma sociedade homofóbica. De tão controverso, a cena gerou
diferentes reações inclusive dentro do movimento LGBT, e, como era de se
esperar, gerou protestos de diferentes grupos religiosos. A questão que fica é:
até que ponto o esforço para chocar contribuirá para a redução da violência, ou
se a ação foi mais um desserviço na luta da própria causa? Fico com a segunda.
Alguns dos
precursores das marchas gay já não marcham, pois o movimento se desvirtuou, na
visão deles. Não era pelo direito de andar nus e fazer sexo na rua um domingo
por ano, custeados com dinheiro público, que eles marchavam. Era pelo seu lugar
na sociedade, pelo respeito mútuo e direitos iguais. Acredito que o crescente
movimento conservador no Brasil é justamente consequência dos atuais extremos.
Assim como
muitos usam a religião como uma desculpa para seus preconceitos, outros usam a
liberdade de expressão como pretexto para agredir e humilhar a Fé e as crenças
de outro grupo Parece-me óbvio que essa mudança de comportamento só ocorrerá
quando todas as partes se reconhecerem como semelhantes. Que sofrem os efeitos
de diferentes discriminações e que muitas vezes somos também a causa de
sofrimento do outro.